1988 - 1992: Guerras de liminares e nascimento de estrelas
Poderia a década de 80 ser toda ela dominada pelo Flamengo de Daltely Guimarães. O Troféu Brasil de Natação, enfim sediado em Curitiba (depois de uma manobra retirar de capital paranaense o direito de sediar o evento dez anos antes), poderia ser marcado pela estreia de um promissor atleta chamado Rogério Romero, que, pelo Clube do Golfinho que sediou a jornada aquática, foi o primeiro a conseguir vaga para a Olimpíada de Seul, com os 59.04 nos 100 metros costas. A disputa entre Flamengo e Minas poderia ter sido só na piscina, com Patrícia Amorim brilhando novamente. Mas o fiel da balança foi um paranaense de 16 anos. Cristiano Michelena ajudou e atrapalhou o Mengo no mesmo ano. Ajudou porque ganhou todas as provas livres: 100, 200, 400, 800 e 1500, e colecionou 100 pontos para o rubro-negro, que terminou 30 a frente do Minas. Mas atrapalhou porque, segundo o Minas, ele não cumpriu o estágio obrigatório de seis meses no Flamengo. Assim também entendeu o STJD, que deu vitória ao time de BH, quebrando assim a hegemonia flamenguista na década. Foram tempos difíceis para a natação, que estava se desregulando e sem saída.
Da mesma forma, Júlio Rebolai foi excluído por estar em estágio depois de deixar o Vasco para ingressar no Mengo, competindo como avulso. Mas o Flamengo ainda tinha Patrícia Amorim. Que não parava de bater recordes nos 1500 livre. Adriana Pereira (Náutico), com recorde sul-americano nos 50 livre e Rogério Romero (Golfinho), com recorde de campeonato nos 200 costas, foram os outros destaques no Júlio De Lamare, que viu, de novo, o Flamengo levantar a taça maior da natação brasileira, sem liminar para atrapalhar.
1990. O calendário da natação foi tão confuso, mas tão confuso, que houve nada menos do que DUAS edições do Troféu Brasil. A primeira delas, valendo por 1990 (ou 1989?), rolou no mesmo Ibirapuera de 2014 e se chamou – pela última vez – Copa Mesbla. Problemas de saúde afastaram Patrícia Amorim das águas nas provas individuais, só competindo nos revezamentos. No mesmo ano, ela optou por parar. Com Mônica dos Anjos sendo recordista sul-americana nos 200 costas e Flávia Gazon (grávida) detonando nos revezamentos, o Minas novamente mostrou poderio e levantou a taça. Na segunda do ano, no Maracanã, valendo por 1991, às vésperas do Natal, e já com patrocínio dos Correios, estreava um garoto já de passagem marcada para a América e apontado como a grande revelação do Pinheiros: um tal de Gustavo França Borges, que começou vencendo os 100 livre (empatado com Júlio Rebolai, do Flamengo) e sendo segundo lugar nos 200 livre. O evento, vencido pelo Mengo, teve dois momentos de emoção: a homenagem a Jorge Fernandes, que se despedia do mundo das águas, e um recorde batido por quatro veteranos nadadores: Pedro Almeida (86 anos), Synésio Hingst (81), Gastão Figueiredo (80) e Tomenmitin Nukarias (77), foi a equipe mais velha a completar o revezamento 4 x 100, com 3:23.25. A festa de encerramento (que não contou com a equipe do Pinheiros), bancada pela já CBDA, aconteceu na boate Babilônia, a mais badalada da época.
1992. A piscina do Pinheiros recepcionava as feras das águas. Gustavo Borges chegou a dizer que não vinha, mas veio dos EUA para o evento, ele que acabara de conseguir a medalha de prata em Barcelona (sofrida, mas conquistada), mas só conseguiu vitórias nos revezamentos. Duas estrelas começavam a brilhar. No feminino, uma garota de 15 anos, norte-americana, que sonhava defender o Brasil em Atlanta, e o no masculino, um loirinho, de olhos claros, 18 anos, catarinense, que deixou boquiaberto o público do Pinheiros com suas vitórias. A menina se chamava Gabrielle Rose. Já o rapaz atendia por Fernando de Queiroz Scherer, mas os companheiros do 12 de Agosto (SC) o chamavam – e logo o mundo o chamaria também – por Xuxa. Eles – e Borges – iam dar muito trabalho...