1980 - 1987: Uma vez, duas vezes... oito vezes Flamengo, sempre Flamengo!

Nova década, novas ideias para a natação brasileira, mas um velho problema para o Troféu Brasil de Natação. A falta de verbas do Comitê Olímpico Brasileiro à então recém-criada Confederação Brasileira de Natação quase pôs tudo a perder. À data, Rubem Dinard de Araújo, presidente da entidade, já pensava na possibilidade de não acontecer o torneio. Aí, a Coca-Cola entrou na história. Com Cr$560.000 (equivalentes atualmente a R$5000, mais ou menos) investidos no certame, enfim ele pôde acontecer. Mais do que isso: seria transformado num grande espetáculo – o primeiro no Parque Aquático Júlio de Lamare – com iluminação especial, trilha sonora apropriada para grandes momentos, sorteios de brindes e entrada franca. Resultado: lotação máxima nos dias do evento. Só não foi perfeito por um incidente na abertura do terceiro dia e porque Djan Madruga preferiu ficar nos EUA.

Mas, neste Troféu Brasil que beirou à perfeição – alô, alô, CBDA – nasceu uma grandiosa hegemonia. Até 1980, o Flamengo tinha somente um título, o de 1968. Com uma geração que marcaria a história do torneio, era tempo de comprovar a excelente fase rubro-negra em todos os esportes (lembremos, era época do Zico no futebol). E tendo à frente o técnico Rômulo Arantes (o pai) e, no escrete, o eterno Rômulo Arantes (o Júnior), Maria Elisa Guimarães, Paula Amorim e companhia, com direito até a invasão da charanga do Flamengo na festa de encerramento, gritou pela segunda vez “campeão” no Rio. Seria a primeira de oito vezes seguidas! Destaquemos também Jorge Fernandes (Tijuca), recordista dos 100 (sul-americano também) e 200 livre e, claro, os irmãos Prado (Marcos, Ricardo e Rosamaria). O evento de 1980 marcou uma revoada geral: depois do evento, oito nadadores (Rômulo, os Prado e Roger Madruga, irmão do Djan, entre eles) foram para os EUA.

Quase nada diferente no ano seguinte: mesmo local, mesmo campeão, ausência de Djan Madruga, efeitos especiais, lotação máxima. As novidades são que Rosamaria e Ricardo Prado (Pradinho está à direita da foto da matéria) chegaram para fazer história no Flamengo. E bota história nisso, porque Ricardinho bateu seu primeiro recorde sul-americano nos 200 medley. Outro nome importante da jornada foi Maria Clara Matta, que melhorou o recorde sul-americano nos 100 peito (que era dela). Para vocês terem uma ideia da hegemonia rubro-negra, o bicampeonato foi garantido no penúltimo dia da jornada.

1982. O Ibirapuera voltava a receber as feras das águas e Djan Madruga, já medalhista olímpico (bronze com o revezamento 4 x 200 em Moscou, com Jorge Fernandes, Cyro Delgado e Marcus Mattioli em Moscou), voltou ao certame depois de dois anos de ausência. A expectativa era do grande duelo Djan x Prado, vencido pelo santista-carioca do Fluminense. Mas o grande nome do certame foi mesmo Jorge Fernandes, já defendendo o Mengo, com recorde sul-americano nos 100 e 200 livre. O ponto negativo foi um apagão pouco após a segunda etapa, deixando atletas e técnicos na escuridão. Entretanto, nada apagava a estrela rubro-negra, novamente campeã por antecipação: terceira na década, quarta ao todo.

O glorioso ano de 1983 marcou a volta do Troféu Brasil ao Maracanã, mas Ricardo Prado (campeão mundial e recordista nos 400 medley naquele ano) ficou nos EUA. O momento mais emocionante foi o adeus de Rômulo Arantes, que, após disputar os 100 costas, foi homenageado pela CBN e ovacionado pelo Júlio de Lamare inteiro. Homenagem justa para quem muito fez pelo esporte brasileiro e, depois, pela televisão, já que ele se tornaria ator consagrado e um bom cantor, além de ter feito bicos como comentarista esportivo. Infelizmente, como Deus leva os melhores mais cedo, ele se foi em 2000, em seu sítio em Maripá de Minas, pouco antes de sua festa-surpresa de aniversário, ao sofrer um acidente de ultraleve. Mas deixou sua marca na história do país, e por isso dedico esta página especial e nossa cobertura do Maria Lenk a ele!

Só para variar, Flamengo campeão com recordes nos revezamentos 4 x 100 livre deles, 4 x 200 livre delas, mais um show de Jorge Fernandes e uma jovem garota campeã nos 200 livre. Até 1982, era a irmã de Paula Amorim. Naquele ano, passava a ser apenas Patrícia Amorim (à esquerda da foto da matéria). Foi o primeiro ano com a transmissão da TVE (o que faz uma bruta falta, já que não são todos que tem o SporTV).

1984. Pradinho, já consagrado como o maior nadador brasileiro de todos os tempos (até então) voltava ao Troféu Brasil não com a intenção de fazer ótimos tempos, mas bateu recordes de campeonato nos 200 borboleta e 200 costas. Patrícia Amorim, só recordes, nos 100, 400 e 800 livre. E mais um título antecipado para o Rubro-Negro da Gávea.

1985. Sheila Findley, uma das sensações norte-americanas de então, se juntava ao Flamengo (sendo, assim, a primeira estrangeira a disputar por um time o Troféu Brasil, que também contou naquele ano com chilenos competindo como avulsos, entre eles Alvaro Vidella), já liderado pelo inesquecível Daltely Guimarães, no Círculo Militar de Campinas. Mayra Kikuchi, do Pinheiros, foi a revelação do torneio. Só isso de novidade. Sexto título seguido, sétimo oficial, para o Mengo, com Pradinho e Patrícia como destaques.

1986. A natação-espetáculo voltava com tudo com o patrocínio da Mesbla ao Troféu Brasil, que então passava a se chamar Copa Mesbla de Natação, no Júlio de Lamare: sorteio de brindes, efeitos especiais, show da seleção de nado sincronizado – alô, alô, CBDA, de novo – e lotação máxima. O Vasco estreava seu time profissional de natação, com a mesma base que era do Fluminense: Djan Madruga (em seu último certame), Cristiane Pereira e Ciro Delgado. Alheio à tudo isso, uma disputa interna pelo comando da CBN: Rubem Márcio Dinard e Coaracy Nunes Filho. Dinard foi eleito em um pleito tumultuado, com federações irregulares e tudo o mais. E durante o primeiro dia da jornada, 24 de Janeiro de 1986, Dinard era avisado durante o torneio que não era mais presidente da CBN e saiu do de Lamare. E começava uma guerra de liminares, enfim vencida pelo Doutor Coaracy. Mas, enquanto isso, Mayra Kikuchi, Adriana Pereira, Marcos Goldenstein, Patrícia e Pradinho se destacaram em mais um título do Mengo, que assim ficou com a posse definitiva do segundo Troféu Brasil.

A era rubro-negra chegava ao fim em 1987, com troféu novo. O Minas começava a montar um time espetacular para competir em casa. Pradinho deixava o Flamengo para competir pelo Pinheiros. Paula Amorim decidiu pendurar o maiô. Mas o Flamengo tinha Patrícia Amorim. E não deixou escapar o seu oitavo título na década (nono ao todo). Conclui-se, nesta análise, que a natação brasileira pouco se modificou nestes anos. Ricardo Prado e Patrícia Amorim foram os grandes nomes do país, e pouco se preocupou em investimento nos novos talentos. As maracutaias e liminares comprometiam o desenvolvimento do esporte olímpico. E assim, começava a época mais confusa do Troféu Brasil. Mas, durante esta época, um garoto brilhava em competições infantis. E caminhava para o panteão dos grandes...

PRÓXIMO CAPÍTULO: Guerras de liminares e nascimento de estrelas

VOLTAR